DISTRIBUIDORES DE AÇO ESPERAM NORMALIZAÇÃO DO ABASTECIMENTO DO MERCADO SÓ EM 2021

FONTE: Petronotícias

Brasil tem gerado muita repercussão e preocupação na indústria em virtude dos altos reajustes e baixa de estoques dos distribuidores. Mas a normalização da situação ainda está a meses de distância. O presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (INDA), Carlos Loureiro, confirma que está quase certo um novo reajuste parte das siderúrgicas no mês de outubro. A previsão é de mais 15%. O entrevistado afirma ainda que agosto chegou ao fim com um estoque nas distribuidoras para mais 2 meses. Para setembro, esse número pode cair para 1,7 mês. “Estamos indo para um nível de estoque preocupante”, alertou. Loureiro espera que essa situação será passageira, mas a regularização só depois da virada de ano. “Para janeiro, a estimativa é que o abastecimento esteja perfeitamente normalizado”, projetou. O presidente do INDA ainda acrescentou que mesmo com os estoques normalizados, os distribuidores terão de repassar no futuro os reajustes feitos recentemente pelas usinas: “Vamos entrar em uma situação no final do ano onde todo o estoque será renovado a preços novos. Ou seja, será preciso repassar o aumento. É lógico que seria muito melhor não ter esse reajuste. Mas não temos a menor condição de segurar o aumento de preços”, concluiu.

Gostaria de começar a entrevista perguntando como os distribuidores de aço estão recebendo a notícia desse novo aumento por partes das siderúrgicas, previsto para outubro?

Esse aumento de outubro está praticamente anunciado. Todas as usinas declararam para seus distribuidores que haverá mais esse aumento. Então, por outro lado, estamos mais preocupados com o abastecimento e não eventualmente com o aumento de preço. A nossa venda em agosto foi recorde. Foi um mês de agosto que não tivemos desde 2009. Somente em 2013 tivemos um agosto melhor do que o deste ano. As perspectivas para setembro, se conseguirmos abastecimento, é de ter um mês com um volume de venda acima de agosto.

Como estão os níveis atuais de estoques da distribuidoras de aço no país?

Nós fechamos o mês de agosto com um estoque de 2 meses. É um dos números mais baixos dentro do nosso histórico. Se confirmado os números de compra e venda traçados em nossa previsão, iremos para 1,7 mês [em setembro]. É um dado muito baixo. 

Eu diria para você que nosso limite seria de 2,5 a 3 meses. É o nosso nível ideal de meses de estoque para fazer uma venda tranquila e  abastecer todos os nossos clientes de uma maneira geral. Então, estamos indo agora para um nível de estoque preocupante.

Por outro lado, temos perfeita consciência de que isso é muito provisório. Para janeiro, a estimativa é que o abastecimento esteja perfeitamente normalizado. Além disso, estamos prevendo que a distribuição de aço deve fechar o ano com crescimento de 5% nas vendas em relação ao ano passado.

Gostaria de uma leitura sua sobre os motivos que estão fazendo as siderúrgicas aumentarem os preços. Existe só a questão do câmbio envolvida ou há outros fatores nessa equação?

Nós fizemos um levantamentoque mostra o preço de dois insumos importantes para a indústria do aço: carvão e minério de ferro. Para se produzir uma tonelada de aço, precisamos de 1,6 tonelada de minério de ferro e 0,6 tonelada de carvão. Analisando o preço desses dois produtos em janeiro e agora em setembro, você vê que o preço do carvão caiu um pouco, mas o minério de ferro subiu mais. Houve uma variação positiva em dólar de 18% [do preço dos insumos minério de ferro e carvão] de janeiro a setembro.

Se você acrescentar ainda a variação do preço do dólar de janeiro a setembro, chegamos a 56% de variação do custo dos insumos, que são responsáveis por mais da metade do preço do aço. Essa é uma das principais razões para aumento de preço do mercado interno. E há ainda a influência do preço no mercado internacional.

Qual o tamanho desse impacto do preço no mercado exterior?

O preço no exterior veio de cerca de US$ 410 e está agora em US$ 520 a tonelada. Acontece que mesmo com esse aumento de preço, ainda o prêmio com o dólar de R$ 5,40, é um prêmio que chega a ser de 1% a 2%. Então, é um nível de prêmio que não te permite fazer uma importação com grandes riscos.

Então, o que está acontecendo agora é a mistura de dois problemas: o aumento de custo da matéria-prima, associada à valorização do dólar; e o aumento do preço do aço no mercado internacional, o que dificulta a importação para combater, eventualmente, um preço abusivo das usinas [nacionais].

Qual foi o peso da crise do coronavírus na atual situação de abastecimento de aço no Brasil?

Em março e abril, houve a queda brutal da atividade econômica. Todos acreditaram que o mundo estava acabando. Até nós fomos nessa linha e chegamos a estimar que a nossa venda nesse ano iria cair 20%.

Diante dessa posição, não só a distribuição [de aço], mas todas as indústrias pararam de comprar, com medo de aumentar o estoque e criar problemas financeiros. Com isso, as empresas cancelaram todos seus pedidos. As usinas chegaram a entrar em maio com menos de 15% da sua carteira vendida.

A maioria das usinas trabalha com alto forno, que oferece uma capacidade muito pequena para manejar produção. Com um alto forno, a siderúrgica consegue reduzir em 10% a sua produção, não mais do que isso. Com a visão daquela época [do início da crise da Covid-19], as usinas foram obrigadas a abafar o forno.

Acontece que a recuperação foi muito mais rápida do que esperávamos. Quando o mercado voltou com a demanda, as usinas retomaram com seus alto fornos. Só que agora o processo é mais lento. Estamos em uma fase com um consumo aparente brutalmente acima do consumo real. As empresas estão querendo refazer seus estoques, mas estão com dificuldade no abastecimento.

Por outro lado, a alternativa da importação oferece a seguinte situação: ao fechar uma importação agora, será preciso esperar quatro meses para receber o produto, na melhor das hipóteses. Ou seja, até lá, janeiro do ano que vem, a situação [do mercado brasileiro] estará regularizada.

O senhor mencionou que a situação do abastecimento se normaliza até janeiro. Mas em relação aos preços? Quando poderíamos ver mudanças?

O preço vai depender do preço do dólar e do minério de ferro. É preciso levar em conta o nível de estoque de 1,7 mês que citei anteriormente. O estoque que teremos em dezembro, se tiver indo para sua normalidade, será construído com esses preços novos. Não há o que fazer.

Quando temos um estoque de 4 meses e há um aumento no preço, é possível absorver um pouco o reajuste em função do estoque construído a preços antigos. Hoje, vamos entrar em uma situação no final do ano onde todo o estoque será renovado a preços novos. Ou seja, será preciso repassar o aumento. É lógico que seria muito melhor não ter esses reajuste. Mas não temos a menor condição de segurar o aumento de preços.