Produção de minérios na AL resiste à covid-19
FONTE: Valor Econômico
De modo geral, a pandemia não teve até agora impactos significativos na produção de minérios e de petróleo e gás na América Latina. Mas há riscos se houver uma segunda onda de infecções
O impacto da pandemia na produção de commodities na América Latina tem preocupado economias já em dificuldades e pode vir a ser uma dor de cabeça adicional se houver uma aceleração nas infecções ou se lockdowns forem retomados com força na região.
Nas minas do Peru, Bolívia e Chile quarentenas interromperam operações e casos entre trabalhadores deixaram esse setor em alerta. Atividades como prospecção também foram atingidas, assim como no setor de petróleo.
No Chile, mais de 3.200 trabalhadores da estatal de cobre Codelco testaram positivo e nove morreram. As minas da empresa operam com 70% da equipe, em turnos alternados. A fundição e o refino na jazida de Chuquicamata, na cidade de Calama, em Antofagasta, foram suspensas temporariamente.
A pandemia, que está sob controle no sul, continua em alta no norte do país, hub importante para a atividade de mineração no Chile. A região de Antofagasta tem hoje mais de 12 mil casos acumulados, segundo maior foco do país, depois da região metropolitana de Santiago, com mais de 244 mil.
“Moradores de Calama acusam o setor minerador de ser responsável pelos novos casos. O sindicato da Codelco tenta na Justiça fechar o aeroporto de Antofagasta, o que teria bastante impacto para o setor de mineração”, diz Leandro Lima, da consultoria Control Risks.
Manter as operações nas minas é crucial para o Chile – que responde por 25% da produção global de cobre. Graças à crescente demanda da China, que responde por metade do consumo mundial do metal, os preços do cobre acumulam uma alta de 38% neste ano.
“Creio que o setor extrativista será um colchão importante para a contração esperada para a economia chilena”, afirma Felipe Camargo, da Oxford Economics. Ele afirma que, no acumulado do ano a exportação de cobre caiu 6%, ante 7,2% das exportações totais, e as estimativas de desemprego para o setor mineiro é de queda anual de 15%, ante 40% do setor de serviços.
Mas a oferta do metal ainda enfrenta riscos significativos. Kieran Clancy, da consultoria Capital Economics, lembra que medidas de bloqueio impostas pelo governo estão sendo relaxadas embora o número de novas infecções diárias continue alto, e o risco de segunda onda não está descartado. Isso poderia levar a maior redução de mão-de-obra e menor produção.
Além do Chile, a Bolívia e o Peru também viram seus setores mineradores atingidos pela pandemia. A mina de San Cristóbal, em Potosí, na Bolívia, entrou em quarentena no fim de maio depois de registrar dois casos de covid-19 entre funcionários. A mina de prata, chumbo e zinco próxima ao Salar de Uyuni é um dos maiores projetos de mineração e investimento estrangeiro do país, diz Claudia Navas, analista da Control Risks.
No Peru, ao menos quatro minas importantes, como Antamina e Cuajone, ficaram três semanas sem atividades pelo lockdown imposto pelo governo. Agora tentam recuperar o tempo perdido.
De modo geral, os impactos não foram significativos porque duraram pouco. Mas, se a pandemia voltar a acelerar no país, novas paralisações podem ser necessárias.
No setor de petróleo e gás, a produção tem sido menos afetada. Mas prospecção e construção de novas instalações foram adiadas.
“No México, a extração petroleira se manteve igual, já que é considerada setor essencial”, diz o consultor mexicano Francisco García. “Mas atividades como distribuição e construção foram prejudicadas.” Em maio, o setor de construção teve contração anual de 35%.
Na estatal petroleira Pemex, foram reportados mais de 4.100 casos e 202 mortes por covid-19.
Na Colômbia seis casos foram confirmados em Campo Rubiales. O campo é o mais produtivo do país, com 135 mil barris/ dia.