Galvani promete investir para tirar projetos antigos do papel

FONTE: Valor Econômico

Empresa brasileira faz planos para minas no Ceará e na Bahia

A brasileira Galvani confia na entrada em operação de “antigos novos” projetos para expandir a produção de matérias-primas para fertilizantes e ampliar de forma expressiva seu faturamento nos próximos três anos. Conforme o CEO Ricardo Neves, para chegar a US$ 350 milhões em vendas até 2024 a companhia conta com as ofertas adicionais que virão das minas de Santa Quitéria, no Ceará, e em Irecê, na Bahia.

Em 2019, a receita da Galvani foi de R$ 500 milhões, com o foco concentrado no Matopiba (confluência entre os Estados do Maranhão, Tocantins Piauí e Bahia) após a saída da joint-venture que formava com a norueguesa Yara. Depois de uma disputa encerrada no fim de 2018, a Yara assumiu o projeto de mineração de Serra do Salitre, em Minas, e uma unidade industrial que era da parceira em Paulínia, em São Paulo. No “divórcio”, a Galvani recebeu US$ 70 milhões em dinheiro por sua participação minoritária nos ativos e poderá ganhar um adicional condicionado ao desempenho de Salitre.

Com isso, na área de produção a Galvani passou a operar apenas a mina de Angico, na baiana Campo Alegre de Lourdes, de onde 220 mil toneladas de rocha fosfática são extraídas por ano. Esse volume permite que a companhia empacote 520 mil toneladas de fertilizantes no complexo químico de Luís Eduardo Magalhães, no oeste do Estado.

Agora, a principal aposta é na mina de Itataia, que fica entre os municípios cearenses de Santa Quitéria e Itatira e deverá começar a operar em dois ou três anos. Com as matérias-primas da mina, a empresa será capaz de produzir anualmente 750 mil toneladas de fertilizantes fosfatados e 270 mil toneladas de bicálcio, componente usado em rações para animais.

“Nosso ponto de estrangulamento no projeto Santa Quitéria era a fábrica de ácido sulfúrico, que já decidimos fazer com ‘revamp’ [capacidade melhorada] de 30% ante o projeto original. A fábrica, modular, já está desmontada e será erguida a partir do fim do ano que vem”, afirma Neves. A maturidade do projeto deverá ser alcançada em 2026. Idealizado em 2009, o empreendimento ainda depende de licença prévia do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que poderá sair em 2021.

Para tirar o projeto do papel, a Galvani afirma que vai investir US$ 315 milhões, ou 80% do aporte total necessário. Sua sócia no projeto é a companhia Indústrias Nucleares do Brasil  (INB), estatal vinculado ao Ministério de Minas e Energias com quem montou o Consórcio Santa Quitéria. A INB tem interesse nas 1,6 mil toneladas de urânio que a mina de Itataia poderá fornecer para abastecer usinas nucleares.

Os planos também incluem investimentos de mais US$ 85 milhões em centros de distribuição, operações portuárias e unidades de mineração e beneficiamento, em Irecê, e em plantas químicas, em Luís Eduardo Magalhães. O porto de Mucuripe, conhecido como porto de Fortaleza, será usado para alimentar a operação com matérias primas (como enxofre e coque de petróleo) e para levar por cabotagem parte da produção de adubos pela calha Norte do país, para mercados como o norte e o nordeste de Mato Grosso e o Pará. “Nosso objetivo é aproveitar o frete de retorno dos grãos para movimentar os fertilizantes”, diz Neves.

Em dois ou três anos, também há a expectativa é que a mina de Irecê, na Bahia, seja reativada. O local deixou de operar há oito anos, após o esgotamento de seus minérios de alto teor. “Agora vamos explorar o chamado minério rocha fresca, também usado na fabricação de fertilizantes fosfatados. O mercado de adubos no Brasil tende a crescer de 3% a 4% ao ano e vemos espaço para aumentos de produção”, diz Neves.

O projeto de Irecê foi reavaliado no novo contexto da companhia, que viu a possibilidade de ganhar uma fonte de matéria-prima a mais com investimento relativamente baixo. A expectativa é que a mina de Irecê produza entre 250 mil e 300 mil toneladas de rocha fosfática por ano, que poderão ser usadas para a fabricação de 500 mil toneladas de fertilizantes acabados processados na unidade de Luís Eduardo Magalhães.