Como a economia verde será uma mina de ouro para o cobre

FONTE: Valor Econômico

Os cabos feitos do metal ainda são o meio mais econômico de transmitir eletricidade de fontes solares e eólicas, e é um material fundamental em estações de recarga e nos veículos elétricos que os utilizam

O cobre, um pilar da velha economia, também desempenhará um papel crucial na nova economia verde. Os cabos feitos do metal ainda são o meio mais econômico de transmitir eletricidade de fontes solares e eólicas, e é um material fundamental em estações de recarga e nos veículos elétricos que os utilizam. De fato, dizem os analistas do Goldman Sachs, “não há descarbonização sem cobre”, que eles chamam de “o novo petróleo”.

A oferta, já apertada com a recuperação da economia global, pode ser ainda mais pressionada por um aumento previsto de cinco vezes na demanda de energia verde na década atual, levando a uma escassez significativa, começando em meados da década de 2020, de acordo com um relatório do analista de commodities do Goldman Nicholas Snowdon. Ele vê o cobre, agora em torno de US$ 4,50 a libra-peso (cerca de US$ 10 mil a tonelada), atingindo US$ 6,80 em 2025 (perto de US$ 15 mil a tonelada). O estrategista de commodities do Bank of America, Michael Widmer, acha que o preço pode chegar a US$ 6,00 neste ano.

As ações dos produtores de cobre, que aumentaram drasticamente no ano passado quando o preço do metal dobrou em relação à queda pós-covid, ainda têm espaço para avançar.

A Freeport-McMoRan (FCX), com minas em três continentes, é a mais bem posicionada e única ação de cobre do S&P 500. Outros produtores dignos de nota são a First Quantum Minerals (FQVLF) e a Southern Copper (SCCO), controlada (89%) pelo conglomerado mexicano Grupo Mexico (GMBXF).

O fundo negociado em bolsa Global X Copper Miners (COPX) detém ações das empresas de mineração, enquanto o fundo U.S. Copper Index (CPER) oferece acesso direto ao metal por meio de contratos futuros.

O principal risco para o cobre é uma fragilidade inesperada na economia global. A China tem um peso enorme nessa equação, já que é responsável por cerca de metade da demanda mundial. No entanto, um recuo parece improvável, dado que a demanda relacionada à energia verde, apenas 3% do uso de cobre em 2020, pode chegar a 16% até 2030, estimam os analistas do Goldman.

Um veículo elétrico contém cerca de 80 quilos do chamado metal vermelho, quatro vezes a quantidade de um veículo com motor de combustão interna. As usinas eólicas em terra usam cerca de quatro vezes mais cobre do que as usinas movidas a combustíveis fósseis por megawatt de eletricidade. Os parques eólicos no mar são ainda mais intensivos em cobre, porque precisam de cabos de cobre grossos para transmitir energia para a terra.

Nos mercados de commodities, os preços mais altos normalmente provocam uma produção maior, mas o cobre pode ter que chegar a US$ 6 a libra-peso para convencer as mineradoras a adicionar nova capacidade, afirma o analista da Jefferies, Chris LaFemina. “As restrições de oferta de cobre são as piores que já existiram. Combine isso com a recuperação da demanda e você terá uma receita para preços mais altos”, disse.

As minas de cobre produzem anualmente cerca de 21 milhões de toneladas — cerca de 45 bilhões de libras-peso. A Freeport observou no mês passado que prevê um aumento de apenas 2 milhões de toneladas por ano. As mineradoras já tiveram experiências ruins, como quando o cobre despencou de um pico de US$ 4,70 a libra uma década atrás. Há um número limitado de boas reservas no mundo, e os prazos de entrega para novos projetos podem estender-se de seis a oito anos, devido às análises de licenciamento e ambientais.

Freeport-McMoRan

Tudo isso beneficia empresas ricas em cobre como a Freeport, que possui mais de 30 anos de reservas. Por volta de US$ 44, o preço de sua ação corresponde a 16 vezes os lucros projetados para 2021 de US$ 2,71 por ação e 14 vezes os lucros estimados para 2022, de US$ 3,08. “A Freeport tem ativos de classe mundial e é uma boa operadora”, diz LaFemina, que recomenda compra para as ações, com um preço-alvo de US$ 55 e uma previsão de lucro acima do consenso para 2022 de mais de US$ 4 por ação.

Espera-se que a Freeport produza quase 4 bilhões de libras-peso (1,87 milhão de toneladas) de cobre neste ano. Ela possui minas no Arizona, tem participações em duas na América do Sul e possui 49% da enorme mina de cobre e ouro de Grasberg na Indonésia.

First Quantum

A First Quantum, sediada no Canadá, possui três minas principais, duas na Zâmbia e uma no Panamá. Ela produz cerca de metade da quantidade anual de cobre que a Freeport produz e é mais alavancada, com dívida líquida de US$ 7 bilhões. Suas ações nos EUA, perto de US$ 28, representam 23 vezes os ganhos projetados para 2021, de US$ 1,23 por ação, e 14 vezes os estimados em US$ 2,01 para 2022. LaFemina recomenda compra, com um preço-alvo de US$ 38 e uma estimativa de lucro por ação de 2022 acima de US$ 3,00.

Southern Copper

Com operações de mineração no no México e no Peru, a Southern Copper possui as maiores reservas do setor e alguns de seus menores custos de produção. Suas ações, a cerca de US$ 77, são negociadas 20 vezes o lucro líquido de US$ 3,79 a ação projetado para 2021. Seu objetivo é dobrar a produção em 2028 de cerca de dois bilhões de libras em 2021.

Grupo México

John Tumazos, da John Tumazos Very Independent Research, prefere o Grupo México como uma maneira de se investir na Southern Copper. Controlado pelo bilionário German Larrea Mota-Velasco, o Grupo Mexico possui 89% da Southern Copper e 70% do Grupo Mexico Transportes, que possui uma importante ferrovia mexicana. “Por meio do Grupo Mexico, você pode comprar Southern Copper com um grande desconto e obter a ferrovia de graça”, diz Tumazos.

Com um bom potencial de alta de longo prazo, ainda há tempo para os investidores embarcarem no trem do cobre.