A atratividade do mercado de energia solar

FONTE: Brasil Energia

Tendência de economia verde e expansão significativa da fonte no país levam empresas de outros setores a entrarem no mercado solar

Driblando a crise causada pela pandemia e crescendo cada vez mais, o mercado de energia solar fotovoltaica atrai empresas de outros setores que veem na tecnologia uma grande oportunidade de diversificar seus negócios, investindo em um segmento que tende a ter expansão exponencial nos próximos anos à medida que a descarbonização da economia avançar.

No primeiro semestre deste ano, o Brasil instalou 146 mil sistemas (1,48 GW) de geração distribuída solar, um aumento de 48,2% na comparação com os 98,5 mil sistemas (1,27 GW) conectados em igual período do ano anterior. A modalidade totaliza 6,2 GW e mais de 540 mil unidades consumidoras, de acordo com dados da Aneel.

Na geração centralizada, a solar fotovoltaica possui 3,4 GW de capacidade instalada. A agência prevê que até o fim do ano 1,3 GW da fonte entre em operação, e que até 2026 um total de 23,6 GW seja adicionado à matriz elétrica nacional. Os investimentos privados em todo o setor fotovoltaico brasileiro podem ultrapassar a cifra de R$ 22,6 bilhões este ano, projeta a Absolar.

Atenta ao potencial da fonte, a Intelbras, empresa com 45 anos de história que ficou mais conhecida pela atuação no segmento de telecomunicações, pela produção e comercialização de centrais de PABX e de telefones públicos, passou a ofertar também sistemas fotovoltaicos em 2019 e tem comemorado os resultados obtidos nessa área.

Para este ano, a companhia espera um crescimento de 100% no segmento solar em relação a 2020. Naquele ano, a receita operacional líquida da Intelbras totalizou R$ 2,13 bilhões, uma alta de 25,7% em comparação com 2019, com destaque para o crescimento de 86% em receita do segmento de energia, que passou a representar 10,1% da receita líquida da companhia, ante 6,8% do ano anterior. A receita de energia, que, além de sistemas fotovoltaicos, inclui nobreaks e baterias, passou de R$ 115,3 milhões para R$ 214,5 milhões em 2020.  “Trabalho há 24 anos na Intelbras, e posso dizer que o crescimento mais rápido e exponencial da empresa está sendo na energia solar”, diz Marcio Osli, diretor de energia solar da Intelbras.

A empresa conta com instaladores credenciados para revender seus produtos por todo o Brasil. Osli conta que a decisão de entrar no mercado fotovoltaico partiu também de observar que os credenciados, que já instalavam produtos como alarmes e câmeras de segurança, demonstraram à empresa que desejavam atuar com energia solar.

A maioria das vendas da companhia são para o consumidor final, sendo 80% clientes residenciais. Os 80 mil revendedores têm acesso a uma plataforma desenvolvida pela Intelbras, que permite que as informações do consumo de energia e endereço do cliente sejam inseridas para o cálculo e apresentação de orçamento de projeto de geração distribuída solar.

A Intelbras financia os sistemas fotovoltaicos em até 72 vezes, de forma que a prestação do financiamento fica igual ou muito próxima a parcela de economia que a pessoa tem na conta de energia devido à geração solar. Os empréstimos têm 90 dias de carência, para dar tempo de o sistema ser instalado e o consumidor só começar a pagar a prestação quando ele já estiver em operação, gerando economia na conta de energia. 

“Nós nos tornamos correspondentes bancários de algumas para poder facilitar a aprovação de crédito e fazer intercâmbio mais facilitado entre o consumidor e os bancos. Temos parcerias com instituições como Santander, BV Financeira e Sicredi. E estamos buscando outras”, afirma Marcio Osli.

Metas atingidas e mais por vir

Já o grupo Fortlev, fundado em 1989, fabricante de reservatórios de água, tubos e conexões, tinha o desejo de trabalhar com energia solar desde 2008, quando ainda não havia ocorrido o primeiro leilão da fonte no país e antes da publicação da Resolução Normativa 482/2012, que estabeleceu as bases para os brasileiros gerarem a sua própria energia elétrica por fontes renováveis.

O interesse pela tecnologia partiu de Antônio Torres, um dos fundadores da companhia que, em visita à China, conheceu fabricantes de painéis solares e inversores. Finalmente, no último trimestre de 2019, o grupo entrou no mercado de energia solar, lançando a empresa Fortlev Solar para atuar como distribuidora de equipamentos fotovoltaicos. A atuação do grupo no mercado fotovoltaico por meio da subsidiária Fortlev Solar tem apresentado resultados satisfatórios, com crescimento de 80% entre janeiro e julho deste ano.

Com sede em Vitória (ES), a distribuidora atende a instaladores de todo o país com equipamentos para projetos de geração distribuída, de até 5 MW, e também de potências maiores no âmbito do mercado livre.

A Fortlev Solar já corresponde a algo entre 30% e 40% do faturamento de todo o grupo. Além da distribuição, a empresa fabrica estruturas fixas de solo e comprou o direito de fabricação de rastreador solar de um fornecedor americano. “Estamos finalizando a nacionalização dos componentes do rastreador solar e estudando se vamos cadastrar o produto na linha Finame do BNDES”, afirma o diretor comercial da empresa, Leonardo Diniz.

Para testar o funcionamento do equipamento, a empresa instalou uma usina solar de 3,2 MW em Montes Claros (MG), com painéis solares monofaciais. Agora, desenvolve outra usina no estado, de 6,5 MW, em Prudente de Morais, para confirmar se o rastreador solar combinado com painéis bifaciais realmente proporciona um ganho de 26% na geração de energia elétrica.

O grupo planeja ainda investir na instalação de um projeto de energia solar de 50 MW para atender sua própria demanda de eletricidade. A ideia é reduzir custos tornando-se autoprodutor de energia. De acordo com Diniz, a empresa está estudando se o projeto será centralizado na Bahia, ou se instalarão uma usina na Bahia e as demais plantas em outros estados em que o grupo tem unidades – Espírito Santo, São Paulo, Santa Catarina, Goiás, Pernambuco e Amazonas.

Por sua vez, a Golden Distribuidora, fundada em 1990 e voltada a produtos de informática, criou a marca Go Solar para incorporar equipamentos de energia solar ao seu portfólio. A companhia investiu R$ 80 milhões na construção de uma fábrica de geradores fotovoltaicos em São Paulo. Em 2020, primeiro ano de atuação da Go Solar, a empresa conseguiu alcançar a meta planejada mesmo com o início da pandemia de Covid-19, retomando o ritmo de suas operações a partir de junho.

Com a aceleração do mercado, a Go Solar prevê atingir um faturamento de R$ 500 milhões este ano, o equivalente à venda de 200 MW de produtos. Além da parceria com grandes fornecedores de inversores, como a SMA, Fronius e Solis, a organização está ampliando seu portfólio para atender grandes instalações com novos painéis solares de alta potência, de 450 a 550 watts, monofaciais ou bifaciais da Jinko Solar e da Trina Solar.

Os módulos de alta potência foram desenvolvidos para atender grandes instalações, como as usinas de solo, que a companhia aposta que serão o grande foco no futuro próximo do setor. Para dar suporte a esse crescimento, a Go Solar também vai triplicar a capacidade de seu armazém atual.

Petroleiras

Outro setor que tem se interessado pelo mercado de energia solar é o de óleo e gás. A pandemia de Covid-19 acelerou a transição energética no mundo, o que tem levado petroleiras a anunciarem investimentos em projetos fotovoltaicos. É o caso da Shell Brasil, que no início de julho assinou um termo de cooperação com a siderúrgica Gerdau para a construção de um parque solar no município de Brasilândia de Minas (MG). A unidade, batizada como Aquarii, terá capacidade instalada de 190 MW.

Parte da energia gerada pelo ativo será destinada às unidades de produção de aço da Gerdau e o restante será comercializado pela Shell no mercado livre, a partir de 2024. O acordo firmado estabelece as premissas para a discussão e constituição de uma joint venture, com participação igualitária das duas empresas.

Trata-se do primeiro projeto solar da Shell no Brasil. Há cerca de três anos, a petroleira iniciou sua estratégia de desenvolver organicamente seu portfólio em geração solar, que na área de energia, se somam aos investimentos na sua comercializadora Shell Energy Brasil, e na termelétrica Marlim Azul. 

A companhia planeja desenvolver outros parques solares nos estados de Minas Gerais e Paraíba. Além do parque em Brasilândia de Minas, há ainda a previsão de instalação de usinas fotovoltaicas em Várzea de Palma (MG), de acordo com pedido de outorga enviado à Aneel em abril do ano passado.

Por fim, a portuguesa Galp vem discutindo potenciais negócios de energias renováveis e gás natural no Brasil com outras empresas e agentes, apostando na possibilidade de fechar seus primeiros contratos antes de 2025. Segundo o CEO global da Galp, Andy Brown, o interesse na área de renováveis se direciona a investimentos em projetos puramente de energia solar, bem como usinas híbridas, associando solar com eólica. O plano global da petroleira prevê que a capacidade de geração de renováveis salte dos 1 GW para 4 GW, em 2025.