Crise Hídrica: Data centers e grandes empresas reforçam medidas antiapagão

FONTE: Valor Econômico

Ações vão de troca de equipamentos a fornecedores diversos para abastecer geradores

Diferentemente do informado na reportagem publicada nesta quarta-feira (8), Marcos Siqueira é vice-presidente de operações (COO) da Ascenty e não CEO da empresa. Segue a reportagem atualizada:

Diante da pior crise hídrica do país em 90 anos, grandes centros de dados e empresas que possuem data centers internos reforçam planos de contingência para garantir a geração de energia, em caso de apagão. Além das medidas emergenciais para manter seus centros de dados funcionando, a agenda ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês) de empresas como o banco Itaú, a farmacêutica Novartis e a operadora Oi prevê medidas de redução do consumo energético. Em seus data centers, isso inclui trocas de servidores, atualização de aparelhos de ar-condicionado e a busca por fontes renováveis.

A meta da Oi é aumentar o uso de fontes renováveis de energia de 50% para 80% até 2022, chegando a 100% até 2025.

Já a Novartis iniciou a instalação de painéis de energia solar, em sua sede, em São Paulo, com previsão de completar o projeto até o fim de 2022, e atualizou o sistema de ar-condicionado por modelos mais eficientes.

O Itaú, que compra energia renovável no mercado livre, conseguiu reduzir em 60% o consumo dos climatizadores em seus data centers fazendo monitoramento com algoritmos inteligentes.

Cerca de 60% a 80% dos custos de um centro de armazenamento de dados são com energia. A digitalização cada vez maior da economia aumenta a demanda por essa infraestrutura. Segundo estimativas da consultoria Boston Consulting Group (BCG), 8% da energia disponível no mundo será consumida por data centers até 2030.

Para escapar do aumento da tarifa, operadores de data centers e grandes empresas compram energia antecipadamente, no atacado,

As principais empresas de centros de dados como Ascenty, Equinix, Odata e Scala têm feito negociações de longo prazo – de cinco a mais de dez anos – no mercado livre. Os contratos preveem a obrigatoriedade do fornecimento.

“Temos contratos firmados até 2033 com garantia de fornecimento”, diz Marcos Peigo, CEO da Scala Data Centers e sócio da Digital Colony na América Latina. “Caso a fornecedora não tenha energia, precisa comprar de alguém para entregar”.

Em caso de apagão, as baterias dos no-breaks são o primeiro recurso para manter o fornecimento de energia. O tempo é limitado a uma ou até duas horas, depedendo da infraestrutura. Depois disso, entram em ação os geradores de energia, movidos a diesel.

Nas operações da Scala Data Center, os geradores fornecem energia por até 72 horas. “Conforme o gerador consome o combustível, vamos chamando caminhões para repor o diesel”, explica Peigo.

Para reforçar seu contingente de fornecedores, a empresa costurou há dois meses uma parceria com a Vibra, antiga BR Distribuidora, que garante o abastecimento do combustível aos quatro data centers em operação no país.

Firmar contratos com mais de um fornecedor é uma estratégia do segmento. Para abastecer seus 16 data centers no Brasil, a Ascenty possui contratos com três fornecedores por região. Desta forma, se uma rodovia for bloqueada por um acidente, por exemplo, a empresa aciona outro fornecedor de uma rota diferente.

A Novartis conta com dois geradores – um deles de reserva – para manter seu data center em funcionamento por até 18 horas. “É o tempo suficiente para nosso setor responsável providenciar a reposição dos combustíveis no caso de emergência elétrica prolongada”, diz a empresa.

Os geradores também podem ser acionados em casos de racionamento de energia, informa Marcos Siqueira, vice-presidente de operações da Ascenty. “Se o Brasil entrar nessa situação, devemos usar geradores nos horários de pico, das 17h às 20h”, afirma.

A preocupação não só de data centers, mas de grandes indústrias com o impacto da crise hídrica elevou em mais de 15% as consultas à Vibra sobre abastecimento de geradores nos últimos três meses. Boa parte das abordagens vieram de mineradoras, siderúrgicas, empresas do agronegócio e de alimentos, informa Marcelo Bragança, diretor de operações, fornecimento e logística da empresa. “O setor industrial está muito ativo buscando soluções de confiabilidade energética”, observa.

A empresa, que entrou no mercado livre de energia após a compra de 70% do capital da Targus, em novembro, aposta em projetos de autoprodução de energia solar, a gás ou por biomassa para empresas. “Em um momento de crise hídrica, temos que garantira oferta de todas as fontes”, diz Bragança.

A criação da bandeira de escassez hídrica, anunciada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), há uma semana, piorou o cenário de empresas que precisam manter centros de dados internos, mas não têm contratos de longo prazo para compra de energia. A nova bandeira, em vigor até abril de 2022, prevê um aumento de 49,6% na tarifa de energia sobre a atual bandeira vermelha patamar 2.

A conta de energia pode ser mais um argumento de migração para serviços de computação em nuvem, argumenta Diogo Santos, diretor de tecnologia da empresa de serviços de nuvem, Claranet. “As empresas não terão o nível de contingência do data center e ainda estão sujeitas à bandeira vermelha”, afirma Santos. “Quem resistiu à nuvem, na pandemia, por questões de orçamento, agora, lembra que seu data center pode apagar”.

Para o Itaú, que conta com três data centers internos, em regime de contingência, a migração de parte de sua infraestrutura para a nuvem da AWS, em novembro, colaborou com uma redução de 15% no consumo de energia. “Temos o objetivo de, até o final de 2022, entregar 50% do banco em cloud”, prevê a instituição.