O que esperar da IA em 2024

Com potencial para abrir um novo capítulo na revolução digital, a IA generativa ocupa, no entanto, o centro de um grande debate, inclusive sobre sua regulamentação

FONTE: Valor Econômico

Feliz 2024!

O ano promete ser decisivo para a inteligência artificial. A rápida disseminação de chatbots como ChatGPT, Bard e Midjourney transformou a IA generativa no tema mais importante do cenário tecnológico em 2023. Em décadas não se via discussão tão intensa sobre um conjunto de tecnologias. Com potencial para abrir um novo capítulo na revolução digital, a IA generativa ocupa, no entanto, o centro de um grande debate, inclusive sobre sua regulamentação. Os próximos meses vão mostrar como a sociedade pretende superar os desafios impostos pela sua adoção, com repercussão em áreas críticas que vão de emprego e direitos autorais a segurança cibernética e privacidade.

A IA generativa dá o tom das 10 tendências tecnológicas do Valor. Em sua 15ª edição anual, a lista traz uma dezena de áreas em que a aplicação da tecnologia deve trazer mais novidades: agronegócios, ambiente, educação, entretenimento, indústria, medicina, produtos de consumo, serviços financeiros, setor público e varejo. As possibilidades vão de plataformas de educação que acompanham a vida escolar do aluno a sistemas que ajudam a diagnosticar câncer. Não deixe de ler!

As indicações do “Financial Times” sobre as principais tendências de negócios para 2024 incluem a inteligência artificial. Para o jornal britânico, os primeiros indícios sugerem que a aceitação da IA generativa no mundo empresarial será lenta, o que pode jogar um balde de água fria no entusiasmo do mercado com as ações de tecnologia. Entre as empresas, uma das preocupações é com o risco de esses sistemas “alucinarem”, que é quando inventam respostas falsas com base em informações reais. Um personagem que estará sob os holofotes, destaca o FT, é Sam Altman, CEO demitido e recontratado da OpenAI, dona do ChatGPT.

Regulação, direitos autorais e desigualdade

A regulação da IA é uma discussão que deve ganahr força neste ano. No mundo inteiro, autoridades debatem a criação de leis para regulamentar o uso da tecnologia e cobrar responsabilidades por eventuais desvios de conduta.

No Brasil, bancos e fintechs argumentam que já existem regulamentações específicas do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre temas críticos como proteção de dados, gestão de riscos e segurança. A evolução da IA pode demandar uma intervenção mais direta dos legisladores, reconhecem as instituições financeiras, mas seus representantes estão preocupados com o que consideram o risco de uma sobreposição de regras.

Entre os grandes bancos, aliás, há uma corrida para adotar as ferramentas de IA generativa e remodelar o atendimento bancário. A hiperpersonalização é uma das metas. Algoritmos estão saindo dos laboratórios para interagir com os clientes em serviços que incluem alertas sobre multas após o vencimento de faturas, bloqueio de transações financeiras suspeitas e propostas para substituir um seguro ineficiente ou fazer a portabilidade de um serviço.

A questão dos direitos autorais, um dos pontos em discussão nos debates sobre regulamentação, ganhou evidência com a decisão do “The New York Times” de processar a Microsoft e a OpenAI. O grupo de mídia afirma que seu conteúdo foi explorado sem permissão para treinar chatbots de IA. Na denúncia, diz que essas ferramentas desviam tráfego que de outra forma iriam para os sites do “NYTimes”, privando a empresa de receitas de publicidade, licenciamento e assinaturas.

Criar leis orientadas à IA pode não ser suficiente para proteger as pessoas dos efeitos nocivos da tecnologia no futuro, escrevem Ian Ayres, professor da Universidade Yale, Aaron Edlin, da Universidade da Califórnia, e Rober J. Shutter, ganhador do Nobel de Economia de 2013 e também professor em Yale. Para o trio de autores, os países também precisarão formular políticas econômicas para compensar seus cidadãos por eventuais desastres provocados pela IA, em particular no campo do emprego. O artigo é leitura obrigatória!

Ações e startups

Você se lembra de “Os Sete Magníficos”? É um western clássico estrelado por Yul Brynner e Steve McQueen (1960), que ganhou refilmagem com Denzel Washington em 2016. Mas e “As Sete Magníficas”? Essas são as ações de tecnologia com mais alto desempenho nos Estados Unidos – Alphabet (Google), Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla. Com o impulso da IA, esses papéis se recuperaram das perdas em 2022 e vão continuar a brilhar em 2024, segundo a corretora Wedbush Securities. Empresas menos conhecidas e menores também estão na lista das “favoritas” para investir neste ano. Confira quais são.

Por falar em gigantes tecnológicas, as “Big Techs” investiram mais em startups de IA generativa que os grupos de capital de risco, segundo a empresa de pesquisa Pitchbook. Juntas, Microsoft, Google e Amazon fecharam transações que somaram dois terços dos US$ 27 bilhões arrecadados pelas novatas de IA em 2023. A disputa mostra a relevância estratégica do segmento para o futuro dos grandes grupos.

Influenciadora virtual e vovô Gates

Como outros influenciadores digitais, Aitana Lopez ganha a vida com publicidade para marcas como a linha de cuidados para cabelo Ollaplex e a Victoria’s Secret, de lingerie. Recebe US$ 1 mil por postagem. A diferença é que ela não existe na vida real. De aparência jovem e cabelos cor-de-rosa, Aitana é um exemplo dos influenciadores virtuais hiperrealistas que estão ganhando vida com a inteligência artificial. Quem não está nada contente com a concorrência são os influenciadores de carne e osso.

Satisfeito está Bill Gates. Em carta publicada em seu blog, o bilionário cofundador da Microsoft fez um balanço de 2023, com projeções para 2024, no qual se diz otimista com o futuro, principalmente em relação às possibilidades da IA generativa.

“Para mim, 2023 será sempre o ano em que me tornei avô. E também marcou a primeira vez que usei inteligência artificial para trabalho e outros motivos sérios, não apenas para brincar e criar paródias de letras de músicas para meus amigos”, escreveu Gates. “Ao longo deste ano tivemos uma ideia de como a IA moldará o futuro e tenho pensado mais do que do que nunca no mundo que os jovens de hoje e minha neta herdarão de nós, sobre como será quando sua geração estiver no comando.”

Entre as aplicações mais importantes, Gates mencionou estudos para frear a resistência de bactérias a antibióticos e o uso da tecnologia no diagnóstico de HIV. Ressaltou também a velocidade com que a IA generativa tem sido adotada. Se neste ano a maioria da população americana já estará usando inteligência artificial cotidianamente na escola e no trabalho, na África a previsão é que isso ocorra em três anos, um intervalo muito mais curto que aquele que marcou o uso da internet.