“Será que o Brasil vai destruir sua indústria do aço?”

Gustavo Werneck, presidente da Gerdau, diz que a siderúrgica começa a definir futuros investimentos

FONTE: Valor Econômico

Em um movimento para se concentrar em ativos estratégicos, sobretudo no Brasil, EUA, México e Canadá, a Gerdau anunciou, na quarta-feira (16), a venda de sua participação societária nas joint ventures Diaco e Gerdau Metaldom para o grupo Inicia, que já era sócio da siderúrgica nesses dois negócios, por US$ 325 milhões.

“Buscamos estar em países relevantes pensando no longo prazo. A Gerdau já esteve em 13 países, agora está em sete”, disse Gustavo Werneck, presidente da Gerdau. Com atuação nos mercados da Colômbia, República Dominicana, Panamá e Costa Rica, as empresas vendidas detêm unidades de produção de aços longos com capacidades de produção de 360 mil toneladas de aciaria e 1.250 mil toneladas de laminação, negócio considerado pouco relevante para os resultados globais da companhia.

“Os recursos [do desinvestimento] serão usados para a companhia buscar outras alternativas de investimento. Na nossa cabeça, esses recursos deveriam ser colocados de forma mais efetiva no Brasil, México, Estados Unidos e Canadá”, contou o executivo.

Nesse sentido, o conselho de administração da siderúrgica tem feito uma provocação à diretoria para definir a alocação futura dos investimentos da Gerdau. “A pergunta é: qual o melhor lugar para aportar os recursos? No Brasil ou no México, que está em um momento de crescimento bastante acelerado e está inserido no ‘nearshoring’? Acho que o Brasil está perdendo essa oportunidade.”

Com a importação de aço chinês, o Brasil também tem perdido competitividade no setor siderúrgico e esse cenário tem preocupado a cadeia, de acordo com o executivo. “Os investidores que olham para o setor tem questionado quais serão os caminhos para o crescimento no país.”

O setor tem feito críticas contundentes ao governo brasileiro por não impor barreiras de proteção ao aço nacional. “O Brasil já foi um grande produtor de alumínio, mas esse segmento importante da indústria foi destruído. Será que o Brasil vai destruir a sua indústria de aço também?”

Com operações na Argentina, a siderúrgica brasileira não pretende deixar o país vizinho mesmo com a instabilidade econômica. “Há países, como Argentina e próprio Peru, que tem passado por dificuldades políticas grandes nos últimos anos, que são muito relevantes para nós.”

Em sua primeira passagem pelo Fórum Econômico Mundial, em Davos, o executivo fez um balanço positivo do evento para o networking da companhia, mas compartilha da opinião de empresários que participam do fórum de que a delegação brasileira deixou a desejar este ano por conta da falta de representantes da área econômica do país.

“Acho que a gente perdeu uma oportunidade importante. O Brasil é a maior delegação da América do Sul, tem o maior número de empresas, então é contraditório ser a maior delegação e não ter a maior representatividade. O governo argentino compareceu com sua equipe econômica no evento.”

Para o executivo, o país tem sido elogiado na área ambiental. “A ministra Marina Silva é referência global em sustentabilidade.”

Werneck avalia que a transição energética, bandeira defendida pelo Brasil, é um tema importante, mas é preciso entender ainda qual será o “funding” para bancar os investimentos projetados para esse novo movimento industrial.