Sem novos leilões, Brasil pode ter falta de potência a partir de 2027

FONTE: UOL.

Crescimento das renováveis pressiona operação

O desafio atual da operação tem relação com o forte crescimento das renováveis não despacháveis nos últimos anos, como usinas eólicas e solares fotovoltaicas. Apenas em 2024, a matriz elétrica brasileira cresceu 10,8 GW, sendo 90% das duas fontes.

Esse aumento das renováveis na matriz passou a ter reflexos na dinâmica de preço de energia no curto prazo, o PLD. Segundo Viana, se antes o PLD subia e descia de acordo com o comportamento da hidrologia, hoje ele reflete também excedentes de geração renovável e a necessidade de despacho de termelétricas mais caras em horários de pico.

Volatilidade cresce com recordes de consumo

Entre 2022 e 2023, o PLD ficou a maior parte do tempo no mínimo determinado para aqueles anos, mas desde o ano passado os preços passaram a ter oscilações em momentos de recorde de consumo, quase sempre refletindo o calor intenso, e a baixa entrega das renováveis.

“As renováveis aumentam a volatilidade de mercado e isso é natural, temos observado isso em todos os países”, explicou Viana.

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No Brasil, pela sazonalidade da matriz elétrica, com períodos chuvosos no verão e o aumento da geração eólica entre julho e setembro (época da “safra de ventos”), outubro se tornou o mês chave da volatilidade.

“Agora outubro, talvez novembro, devem ser meses críticos em termos de volatilidade”, disse o especialista.

Como as temperaturas já sobem nesses meses, mas as chuvas ainda não geraram acúmulos nos reservatórios das hidrelétricas, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) aciona mais termelétricas para suprir o consumo, especialmente nos horários de pico.

Estudos do ONS indicam a possibilidade de déficit de potência já em outubro deste ano, mas o suprimento deve ser garantido pelas usinas existentes e descontratadas, mesmo que a preços mais altos.

Sistema precisará de usinas mais flexíveis

A partir de 2028, o desafio é viabilizar novas usinas termelétricas, especialmente usinas mais flexíveis que possam ser ligadas e desligadas em prazos curtos para fazer frente às variações de consumo e geração.

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Além do desafio de equacionar a contratação equilibrada de termelétricas com menor custo possível e maior flexibilidade, o LRCAP deve viabilizar ainda expansões de hidrelétricas já existentes, por meio da adição de novas turbinas, que vão aumentar a potência disponível. Num outro momento, o governo prevê um leilão para baterias, mas este deve ter uma demanda ainda pequena, segundo Viana, já que se trata de uma nova tecnologia.

“O maior desafio das baterias e das novas tecnologias, de modo geral é se viabilizar numa competição sem subsídios”, disse o especialista.

Risco já afeta mercado livre e pode impactar tarifas reguladas

A volatilidade de preços existente hoje já afeta a comercialização de energia, pois a dificuldade na previsão de médio a longo prazo afeta a relação de risco e o retorno.

Até o momento, os efeitos estão restritos ao mercado livre de energia, mas pode haver efeitos nas tarifas reguladas, além do acionamento de bandeiras tarifárias. A ausência de um plano estruturado para nova capacidade pode tornar o sistema mais caro e menos confiável para todos.

Reportagem

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