.

Saída da GE e crise na Siemens Gamesa acendem alerta no setor eólico

Aperto na oferta de equipamentos pode se acentuar mais, já que apenas Aeris e LM fabricam pás no Brasil; e a última acaba de perder seu principal cliente

FONTE: Valor Econômico

Em um momento de aquecimento dos investimentos na energia eólica, a decisão da americana GE Renewable Energy de suspender a produção de novas turbinas eólicas no Brasil levanta o temor de uma possível escassez de máquinas e aumentos de preços no setor.

O cenário se agrava com a crise na Siemens Gamesa , outra importante fabricante, e pelas tensões geopolíticas, ambiente inflacionário, riscos macroeconômicos e aos eventos ligados à pandemia de covid-19.

O presidente da Thymos Energia, João Carlos Mello, diz que o movimento das empresas é uma questão conjuntural e de reposicionamento em função da cadeia mundial de fornecimento.

“O reposicionamento de GE e Gamesa pode ser em função de logística e fornecimento de peças da China. E a alta de commodities pode ter feito com que os fabricantes tenham revisto a política de nacionalização”, avalia.

Em nota, a Gamesa afirma que sabe o potencial que a região tem na geração de energia renovável e que considera o Brasil um mercado prioritário.

“A Siemens Gamesa possui contratos de longo prazo no Brasil e, recentemente, aprovou um plano de investimentos de forma a ampliar ainda mais sua participação no mercado local.”

A presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum, busca tranquilizar o setor dizendo que saída GE faz parte de uma reestruturação global que passa pela redução da produção de 4 mil para 2 mil aerogeradores por ano no mundo.

“Não foi agora que a GE parou de vender para o mercado brasileiro. Já tem três ou quatro anos que ela reduziu a velocidade de venda. Então a oferta do aerogerador já foi sentida no passado e aparentemente está falta não foi tão séria”, afirma.

Outros fabricantes devem se aproveitar da situação. WEG, Vestas, Gamesa, Nordex, Acciona e Wobben atendem o mercado nacional. A Vestas detém quase 50% da fatia de mercado, mas a catarinense WEG vem trabalhando para crescer e anunciou em julho o investimento na produção do maior aerogerador em operação para o mercado brasileiro.

O diretor superintendente da WEG Energia, João Paulo Gualberto da Silva, lembra que o mercado eólico mundial passa por uma transição para novos patamares de custos em função da escalada das commodities, e apesar dos ganhos tecnológicos e de produtividade na nova linha de aerogeradores, a empresa teve que implementar aumentos nos preços de venda para contrabalançar os impactos.

“Nossa prioridade no momento é a recomposição de margens e consequente reposicionamento dos preços de venda. A estratégia permanece a mesma, cumprindo nossos contratos junto a clientes e fornecedores e buscando negociações pontuais que venham a minimizar os impactos da escalada de custos para as partes envolvidas. Assim, neste momento não há planos de aumento de capacidade”.

O mercado de pás é ainda mais concentrado. Apenas a Aeris e a LM Wind Power produzem no Brasil. O diretor de Planejamento e Relações com Investidores da Aeris, Bruno Lolli, diz que isso não concentra a carteira da empresa, já que continuam com os mesmos quatro cliente – Vestas, Nordes, Gamesa e WEG – e não fornecem pás para a GE desde 2021.

“A gente não sofre com a saída da GE no curto e médio prazo, mas no longo prazo não é bom porque o Brasil é o terceiro mercado do mundo, atrás da China e EUA (…) e isso é ruim para a confiança do mercado no Brasil”, explica.

O aperto na oferta de equipamentos pode se acentuar ainda mais, já que a LM é subsidiária da GE e perde seu principal cliente no Brasil. Recentemente a empresa assinou com a Vestas, mas fontes dizem que o projeto vem sofrendo atrasos.

“Eles deveriam ter começado a produzir em julho, mas estão postergando para novembro. Os volumes de 2022 e 2023 reduziram mais da metade e entendemos que existe um risco, sim, da relação Vestas e LM no Brasil”, disse uma fonte sob condição de anonimato.

A empresa não comenta. Em nota, a LM diz apenas que a fábrica em Suape (PE) segue produzindo pás de turbinas eólicas e entregando pedidos de clientes para a indústria eólica.

Já as geradoras admitem preocupação sobre o custo marginal da expansão com toda essa disrupção. A Engie Brasil Participações tem um plano ambicioso de investir R$ 10 bilhões em dois anos em renováveis com foco em eólicas e avalia que o capex pode mudar.

“Poderíamos pensar que o Brasil seria um celeiro de atração de grandes investimentos de fábricas e agora vemos a GE fazendo o contrário”, lamenta o CEO da empresa, Mauricio Bähr.