Braskem quer importar gás dos EUA para baratear produção no Brasil

Movimento faz parte de estratégia de empresa para enfrentar ciclo de baixa na indústria petroquímica

FONTE: InfoMoney.

OATZACOALCOS (MÉXICO) – Para otimizar os custos de produção de resinas industriais, a Braskem (BRKM5) quer ampliar a utilização de etano e depender menos da nafta, derivado do petróleo que é a principal matéria-prima utilizada pela companhia na maior parte de suas operações no Brasil. A petroquímica quer aproveitar a maior oferta global do gás para importá-lo dos Estados Unidos, replicando a forma como a empresa trabalha hoje no México, por exemplo.

“Nós temos que aumentar a mistura de gás na nafta. É algo que podemos fazer em nossos fornos na Bahia e no Rio Grande do Sul, para consumir mais gás e menos nafta, que está em desvantagem comparativa”, afirmou Roberto Ramos, CEO da Braskem, em uma rápida entrevista durante sua passagem por Coatzacoalcos, no sul do México.

O executivo participou da inauguração de um terminal portuário que vai receber etano do Texas. Há pelo menos sete anos a operação mexicana, que produz polietileno, opera abaixo da capacidade por conta da escassez de matéria-prima.

Ramos admite que, no Brasil, a oferta de etano também não é suficiente para atender a todas às operações da empresa no país. “Mas nós vamos importar gás dos Estados Unidos, da mesma forma que nós estamos fazendo aqui [no México]. Vamos importar para o Brasil e misturar na nafta, para ganhar competitividade e navegar nesse ciclo de baixa que vai ser longo”, afirmou.

Roberto Ramos é CEO da Braskem desde dezembro de 2024 (Foto: Divulgação)

O ciclo de baixa ao qual o CEO da Braskem se refere tem como pivô uma sobreoferta de resinas. Os Estados Unidos inundaram o mercado com polietileno e a China, com polipropileno. Ambas são utilizadas na fabricação de plásticos, em diferentes indústrias. No Brasil, a concorrência com as importações tem deixado empresas do setor em dificuldades e levado a Braskem a adotar uma série de medidas de compensação, segundo Ramos.

“A primeira delas é obter um grau de proteção comercial para impedir que os produtores americanos despejem polietileno no Brasil a um preço mais barato do que eles vendem no mercado americano, o que é uma prática desleal de comércio. Os chineses, a mesma coisa em relação ao polipropileno”, disparou o executivo.

“Nós conseguimos com o governo brasileiro a imposição de tarifas de importação. A gente espera que elas se mantenham com o tempo, porque isso nos dá uma proteção. Mas nós temos que reduzir a nossa dependência da nafta e passar a produzir com mais gás”, complementou.

Questionado se a empresa já havia começado a importar gás para a operação brasileira, Ramos disse que a Braskem “já está fazendo isso em alguns fornos da Bahia, mas nós vamos aumentar”.

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De acordo com o executivo, a ideia é ter 30% de gás na mistura com a nafta.

Enquanto isso, no México…

O Terminal Química Puerto México (TQPM) vai receber gás importado dos Estados Unidos (Foto: Divulgação)

Em Coatzacoalcos, com a inauguração do Terminal Química Puerto México (TQPM), a Braskem não vai depender mais do etano da Petróleos México (Pemex). O fornecimento da matéria-prima pela estatal mexicana foi condição para a companhia se estabelecer no país em parceria com a Idesa, de Carlos Slim. Mas pouco tempo depois que a planta de polietileno em Veracruz começou a funcionar, a Pemex passou a vender volumes abaixo do combinando, prejudicando a operação.

A solução foi importar etano dos Estados Unidos, que inicialmente chegava pelo porto de Coatzacoalcos e era transportado por caminhões até o complexo fabril da Braskem Idesa. Com o TQPM, a companhia vai operar com embarcações próprias para trazer a matéria-prima do Texas e o etano chegará às fábricas por dutos.

“A Pemex vai continuar nos fornecendo gás, mas não vai ter mais a obrigação de encher as plantas”, disse o CEO da Braskem. Isso já estava previsto em memorando de entendimento assinado entre as empresas em 2021, quando a construção do TQPM foi anunciada pela primeira vez.

Mesmo com a entrega do projeto, Ramos diz que a Pemex vai continuar, “sem dúvida”, fornecendo etano para a Braskem.

“Mas isso depende muito do aumento da produção deles e isso requer um esforço de exploração. Temos que ver se a Pemex vai ter os recursos necessários para continuar investindo em exploração e produção”, afirma o executivo.