No centro dos FPSOs
FONTE: Brasil Energia
Crise e corte de investimentos não tiram o Brasil do topo do ranking de novas contratações de unidades de produção
O mercado brasileiro de FPSOs continuará mobilizando a atenção das empresas nos próximos anos. Mesmo em meio a crescente preocupação das petroleiras com o processo de transição energética e a volatilidade dos preços do petróleo no mercado internacional, que enxugou os planos das companhias e nocauteou as expectativas de encomendas futuras, projeções revisadas ainda mantêm o país como um dos principais polos mundiais do segmento, com perspectiva de responder por 40% a 60% da demanda global.
Para os próximos dez a 15 anos, estima-se uma média anual de encomendas de cinco FPSOs no mundo, sendo três a dois direcionados ao Brasil, com possibilidade de picos eventuais de quatro unidades. No primeiro semestre de 2019, quando o mercado comemorava os sinais de retomada antes de ser novamente sacudido pela recente despencada do Brent, as projeções apontavam para dez a 12 novos projetos por ano até 2022, sendo 30% no Brasil e 30% no Oeste da África, com o restante distribuído pelo Golfo do México, Ásia e Austrália.
Diante da incerteza em relação ao comportamento do mercado mundial de petróleo, há quem aposte em projeções globais mais otimistas. Algumas análises chegam a apontar para a possibilidade de contratação global de dez FPSOs por ano no mundo.
Cautelosos, executivos do segmento de FPSOs demonstram maior confiança em projeções mais conservadoras e condizentes com o novo cenário. Embora a estimativa de encomendas seja menor, existe consenso de que, diante da crise, o Brasil ganhou ainda mais relevância nesse segmento frente a outros países, respaldado pelos projetos do pré-sal.
As encomendas garantirão a movimentação de montantes anuais no Brasil de US$ 4,5 bilhões a US$ 7,5 bilhões. O capex dos FPSOs de médio a grande porte a serem demandados no país oscila entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2,5 bilhões.
Tudo ou nada
A despeito das diferentes projeções, prevalece o consenso de que os próximos dez a 15 anos serão decisivos para ampliação mais expressiva da carteira das operadoras de FPSOs e das empresas interessadas em contratos de EPC. Tendo em vista o cenário futuro de transformação, a contratação de grandes unidades de produção tende a ser esporádica e não mais rotina, conforme ocorre hoje.
Grandes operadoras de FPSO estimam que, a partir de 2031-2036, as companhias atuarão muito mais voltadas à gestão de operação dos contratos já firmados do que na busca por novos negócios. A aposta é de que a perspectiva de longas listas de novos FPSOs passem a figurar como resquício do passado.
Petrobras no topo
Mantendo a previsão original, a Petrobras seguirá liderando a maior parte dos processos de contratação dos novos FPSOs no Brasil e, possivelmente, no mundo. No horizonte 2021-2025, a petroleira irá lançar editais para contratar novas unidades de produção de grande porte para os projetos de Sergipe Águas Profundas, Búzios e outros sistemas do cluster do pré-sal de Santos.
O primeiro edital da Petrobras em 2021 deverá ser de um FPSO de 100 mil barris/dia para águas de Sergipe. Estima-se que a contratação da unidade seja feita sob o modelo de BOT (Build Operate Transfer), no qual o afretador constrói, opera por três a cinco anos e, depois, repassa o navio-plataforma para o operador do campo.
A experiência da Petrobras com BOT ainda é tímida. Os únicos projetos desenvolvidos até hoje foram o da P-57, originalmente contratada com a Modec, e da P-63, que ficou a cargo da BW Offshore.
Outro bid que tende a ser lançado no mercado no curtíssimo prazo, entre 2021 e 2022, é o do FPSO de Búzios 9, programado para ser equipado com planta para 225 mil barris/dia de óleo e 12 milhões de m³/dia de gás. Tanto o sistema da Bacia de Santos quanto o do Nordeste ficaram fora do Plano Estratégico (PE) da Petrobras 2021-2025, mas devem entrar em operação possivelmente em 2026.
Cabe lembrar que o novo PE da petroleira não contempla nenhum sistema além dos já contratados ou com licitação/negociação em curso.
Búzios na liderança
No rastro de Búzios 9, o mercado espera também a contratação do FPSO de Búzios 10. Carro-chefe dos projetos de produção da Petrobras, o campo demandará, até o final da década, a contratação de quatro novos FPSOs de grande porte para as fases 9, 10, 11 e 12.
Cada unidade terá capacidade para produzir 225 mil barris/dia de óleo e 12 milhões de m³/dia de gás.
Existe a expectativa de que a Petrobras licite em breve os FPSOs de Búzios 11 e 12. Os mais otimistas projetam a contratação das duas últimas unidades do projeto para 2023.
Até o momento, a Petrobras não definiu a modalidade de contratação das futuras unidades de Búzios, se será formatada sob regime de EPC ou de afretamento. A escolha dependerá, em muito, do resultado dos processos em curso.
Negócios atuais
A companhia brasileira conduz processos de contratação para cinco FPSOs: um para Mero 4, um para o Parque das Baleias e três direcionados ao projeto de Búzios, sendo dois na modalidade de EPC para a P-78 e P-79, destinados às fases 7 e 8, respectivamente, e um sob o escopo de negociação direta com a SBM para o afretamento do FPSO Almirante Tamandaré (fase 6). Juntas, essas unidades irão assegurar à Petrobras uma capacidade instalada de produção de cerca de 900 mil de barris/dia de óleo.
Programado para entrar em operação em 2024, o FPSO Almirante Tamandaré será a maior unidade de produção do Brasil, com planta de 225 mil barris/dia de óleo, trazendo a reboque depois outros quatro sistemas desse porte. As maiores plataformas em operação da Petrobras têm capacidade para 180 mil barris/dia.
A contratação efetiva desses cinco FPSOs irá ocorrer entre 2021 e 2022.
Lista de peso
No que diz respeito às novas unidades, além das quatro de Búzios que ainda terão seus editais lançados, a Petrobras irá ao mercado para contratar outros oito FPSOs. As 12 novas plataformas agregarão uma capacidade instalada adicional de 2,14 milhões de barris/dia de óleo e 113 milhões de m³/dia de gás, o que representa, respectivamente, 74% e 86% dos atuais volumes de produção do país.
A lista dos 12 FPSOs não foi inserida no Plano de Estratégico, mas promete compor o cronograma de novos projetos até o final da década. Os sistemas serão instalados nas áreas de Sépia (fase 2), Atapu (módulo 2), Sururu e Lula. A projeção contempla também FPSOs para áreas que ainda não tiveram descobertas e sequer foram perfuradas, como Aram, Três Marias, Uirapuru e Sagitário (BM-S-50).
Além da Petrobras
Outras petroleiras também estão realizando suas contratações. Em 2021, a Shell receberá as propostas para afretar um FPSO de 90 mil barris/dia para Gato do Mato, na Bacia de Santos.
Já a Equinor, após contratar o FPSO de Bacalhau 1 à Modec, começa a discutir as bases de negociação da segunda unidade do campo com a afretadora japonesa. Em relação à petroleira norueguesa, o mercado também aguarda o lançamento do bid para o FPSO de Pão de Açúcar, entre 2022 e 2023.
Por sua vez, a ExxonMobil não definiu ainda os modelos de seus projetos potenciais.
Além das grandes unidades, há também o FPSO de médio porte da Karoon para a Bacia de Santos. Outra possibilidade pode vir da Enauta, caso a petroleira confirme a decisão de prosseguir com o projeto definitivo de Atlanta.