Minério de ferro surpreende e encerra ano com alta de 74%
FONTE: Valor Econômico
Consumo chinês sustenta valorização das commodities metálicas; barril do Brent enerrou o ano com queda de 22%
A China deu o tom na indústria de mineração em 2020, ano marcado pela pandemia do novo coronavírus, que assolou a economia mundial. Minério de ferro, cobre e outros metais apresentaram ganhos que não entraram, no auge da crise, na conta dos especialistas. Além da forte demanda chinesa, as incertezas na oferta por parte de produtores ajudaram a elevar, e a manter no topo, os preços dessas commodities.
Já no mercado de petróleo, o barril do Brent -principal referência – viu seu preço cair com o impacto da pandemia na economia global, após a adoção de medidas de isolamento social para conter a disseminação da covid-19. Depois de ir quase ao fundo do poço, o contrato do barril conseguiu boa recuperação, pouco acima de US$ 50, mas ainda abaixo dos US$ 65 de antes da crise. Ganhos em 2021 vão depender muito do avanço da vacina, em especial nos EUA, Europa e Ásia.
A vedete foi o minério de ferro, insumo da indústria do aço. O produto de referência no mercado chinês, com 62% de teor de ferro, encerrou 2020 a US$ 160,47 a tonelada. A commodity alcançou expressiva alta de 74% no ano, de acordo com dados da publicação especializada “Fastmarkets MB”.
“O que sustentou o preço do minério foi a demanda chinesa, que representa de 70% a 75% do consumo da commodity. Em 2020, as siderúrgicas devem atingir 1,05 bilhão de toneladas”, disse o analista do Itaú BBA, Daniel Sasson.
Para 2021, ele não prevê que o atual ritmo de produção chinesa vai se manter, com uso de 90% da capacidade das usinas. Com isso, a média de preço do minério ficará em torno de US$ 110, sendo mais alta no primeiro trimestre.
Incertezas na oferta, acentuadas com novas estimativas da Vale, levaram o preço próximo de US$ 180 a tonelada. A mineradora informou que prevê produzir entre 300 milhões e 305 milhões de toneladas neste ano, abaixo das 310 milhões a 330 milhões de toneladas previstas antes. Para 2021, reduziu em 60 milhões a previsão, para 315 milhões a 335 milhões de toneladas. Além disso, ciclones nos portos australianos podem afetar os embarques até o final de março.
“O consenso no mercado é cotação média em torno de US$ 110 a tonelada. Nem mesmo o mais otimista dos analistas estima que os preços são sustentáveis no nível de US$ 160. A China deverá ter produção semelhante à deste ano, mas outros países devem aumentar o volume de aço em 10% com a volta da economia global.”
A expectativa do mercado é de arrefecimento no volume de aço chinês, após o governo pedir ao setor que reduzisse as operações a partir de 2021 visando reduzir as emissões de CO2. Esse movimento derrubou os contratos futuros do minério mais negociados na bolsa de Dalian.
Na esteira do minério, o cobre também apresentou alta nos preços. A cotação média do ano foi de US$ 6,2 mil a tonelada, mas o metal tem sido negociado próximo de US$ 8 mil a tonelada, com perspectivas de subir mais.
“Em 2020, o preço do cobre foi pressionado pela oferta. Com a pandemia, Peru e Chile, os principais produtores mundiais tiveram queda na produção. Do lado da demanda, a China sustentou o crescimento mundial. O que deu um equilíbrio entre oferta e demanda”, disse Paulo Castellari, presidente do fundo de investimento Appian Brasil.
Segundo ele, a demanda média ficou em 24,6 milhões de toneladas, próximo à oferta. Para 2021, Castellari prevê aceleração dos preços com o descolamento da oferta frente à demanda mundial. A estimativa do mercado, diz, é uma cotação média em torno de US$ 6,6 mil a tonelada.
Castellari ressaltou que as expectativas é de crescimento do PIB mundial com o início da vacinação nos países. A estimativa do Banco Mundial, segundo ele, é de uma alta de 5%; na China, crescimento de 8%. “A produção mundial deverá somar 25,5 milhões de toneladas e o consumo, 25,8 milhões. E não se espera aumento na oferta; não há muitos projetos para entrar em operação nos próximos anos”.
O Appian tem um projeto de cobre em Craíbas, em Alagoas. A Mineração Vale Verde (MVV) deve entrar em operação no segundo semestre de 2021 e a expectativa é que sejam produzidas 8 mil toneladas. “É uma produção pequena, mas é um produto com alto teor. Nossa capacidade plena é de 20 mil toneladas ao ano”, disse.
Na mão inversa das commodities metálicas, o petróleo registrou queda de mais de 20%. O barril do Brent fechou o ano cotado a US$ 51,82, recuo de 22% ante o fim de 2019. A queda é explicada, segundo o analista de petróleo e energia da XP Investimentos, Gabriel Francisco, pela recessão mundial fruto da pandemia.
Em dezembro, o Brent apresentou recuperação na faixa de 7%. “Para 2021, a expectativa é de leve alta, devendo oscilar entre US$ 55 e US$ 60 em decorrência de melhora da economia global com o início da vacinação nos principais países consumidores”, disse o analista. “A velocidade da vacinação no mundo deve ditar o ritmo em 2021.”